Um dos grandes desafios a serem enfrentados pela humanidade é conseguir criar e gerir recursos para tornar possível o crescimento mundial de forma sustentável. Os países do continente europeu, sabidamente mais desenvolvidos que o nosso há muito nos dão exemplos de conservacionismo e sustentabilidade aliados ao crescimento econômico.
Dias atrás recebi um e-mail do Sr. João Artur dos Santos Lemos, representante da Federação Portuguesa de Caça, contando-me sobre um evento que ele participou em abril na Espanha, mais precisamente na região da Galicia. Foi o XVIII Congresso Internacional de Periódicos Especializados em CAÇA, PESCA, MEIO AMBIENTE e TURISMO. O e-mail recebido serviu muito bem para mostrar o quanto estamos atrasados em relação aos nossos colonizadores. Imaginem então como estamos em relação ao resto da europa.
O sr. João Artur conta que esse foi um evento direcionado para profissionais de imprensa especializada e para alguns convidados ligados à federações de caça européias mas foi muito esclarecedor em vários aspectos. Nas diversas Jornadas Técnicas do congresso, as temáticas abordadas nas diversas conferências tiveram como bases a responsabilidade por danos causados pelas espécies cinegéticas, o Turismo na Galicia interior, estratégia da Truta, a Caça, o Caçador e o Campo, a importância da Caça na cozinha, a Caça no mundo da vivência, os Cães e as raças autóctones.
Informou também que o Presidente da Federação Galega de Caça, Sr. José M. Gómez Cortón, apresentou um estudo ao qual os países deveria tirar lições, onde ele constatou que existem 55.000 Caçadores em toda a Galicia, sendo que 98% são associados, 72% vivem em âmbito Rural, 25% tem Habitação no Mundo Rural, 90% de Caçadores e Familiares estão de acordo com a prática da Caça, e o mais relevante, beira a 96 MILHÕES de Euros o valor que só a Caça gera na Galicia.
Destacou também a importância da Congressista Lola Merino Chacón, Presidente Nacional da Federação de Mulheres e Famílias da Âmbito Rural – ANFAR, que representa cerca de 50 MIL MULHERES ligadas ao setor do Campo e da Caça. Esta Congressista sublinhou a importância econômica, social e turística que a Caça representa em toda a província de Castilla de La Mancha. Só por curiosidade, a Espanha vendeu no ano de 2009, cerca 21 MILHÕES de Kg de produtos oriundos da Caça. Esta congressista abordou a importância do setor da Caça no âmbito feminino, pela polivalência que esta disponibiliza, como na agricultura, o turismo rural, o artesanato, a restauração o aluguel de Fincas (Cotos/Fazendas de Caça) entre muitos outros aqui não sublinhados.
Após ler o e-mail do sr. João Artur, fiquei aqui pensando...se em um país do tamanho da Espanha, uma única região gera quase cem milhões de euros com recursos provenientes da caça, o que estamos fazendo aqui que não aproveitamos o exemplo mundial e começamos a ganhar dinheiro?
Fica fácil observar também que se o conservacionismo não andasse junto da caça, há muitos anos que esses recursos teriam deixado de existir, afinal ninguém quer matar a galinha dos ovos de ouro. Como sabemos, se o gado não tivesse valor comercial, já teria se extinguido há muito tempo.
Como me impressionei bastante com esses números, fui à caça (viram a expressão?) de mais informações sobre o assunto e procurando dados em países bem díspares e encontrei o seguinte:
Itália -
Os dados elaborados por Proter Censis (2002), dão-nos os seguintes valores no mercado nacional:
- armas de caça: 258 milhões de liras (exportam 65%)
-7.901 empregados
- munições: 183 milhões de liras(das quais exportam 2,45%)
- 7.000 empregados
- acessórios e vestuário: 100 milhões de liras
- 5.000 empregados
- imprensa cinegética: 19 milhões de liras
- 6.000 empregados
- Armeiros: 409 milhões de liras
- 6.300 empregados
Neste período, na Itália a caça representava trabalho e emprego a mais de 33.000 pessoas e estava no centro de uma série de atividades que alcançavam um volume de negócios superior a um bilhão de liras.
Hungria -
Em 2003, o valor total da produção cinegética alcançou 24,4 milhões de dólares e os lucros ascenderam a dois milhões de dólares. Do total da produção, temos o seguinte:
- 34%, correspondeu a caçadores estrangeiros
- 23% para venda de peças mortas e vivas, respectivamente.
- Quantidade de caçadores estrangeiros: 16.000
- Áreas de caça: 82,6% de todos os terrenos aptos para a caça estão arrendados por grupos de caçadores integrados na Associação Nacional de Caçadores da Hungria.
Polônia -
A economia cinegética na Polônia é administrada pela Organização Popular (Associação Polonesa de Caçadores).
As épocas de Caça são fixadas pelo Ministério da Indústria Florestal e Madeireira, e o Regulamento de Caça, pela Associação de Caçadores da Polônia. O faturamento da economia de caça em 2003 ficou próximo de 45 milhões de dólares.Os caçadores abatem cada ano, aproximadamente:
- 1.000 alces
- 30.000 veados
- 100.000 corças
- 100.000 javalis
A carne dos animais é totalmente aproveitada e como passa por controles sanitários, é vendida em açougues autorizados.
Durante os últimos anos foi autorizado o abate excessivo de ungulados, originado pelos danos causados na agricultura pelas espécies cinegéticas. O Estado e a Associação de Caçadores da Polônia pagam, por isso, as indenizações correspondentes.
A economia cinegética é uma disciplina que se estuda nas Escolas Superiores de Agronomia da Polônia.
E no Brasil?